A mãe entrou no Centro de Saúde como qualquer mãe. O bebê tinha mais de um ano. Desproporcionalmente grande. Olhos fixos nela, boca aberta, nenhum dente, nem um grunhido. Bem agasalhado, vestia luvas cobrindo talvez deformações.
A mulher pediu para descansar e acomodou-se sem conforto no banco de madeira sem encosto. A auxiliar deu as gotinhas, mas a criança não deglutiu. A mãe o acarinhava pedindo que engolisse. A cabeça dele muito grande. Um molusco ganhando colo.
Muitos olhos eram compelidos naquela direção. Mas os que olhavam os dois não queriam ver de verdade.
A mãe demonstrava apenas cansaço. O direito de sentir? Ser cuidada? Franzina e sorridente, vida e morte preencheram a sala de espera. O amor incondicional.
Levantou-se poucos minutos depois de certificar-se que a vacina fora deglutida. Desceu a escadaria de poucos degraus e seguiu pelo passeio público com seu fardo.
Marilice Costi (Dia de Vacinação, 2005)